Dieta cetogénica

09/09/2020
Dieta cetogenica

Na sociedade atual, há uma preocupação com o peso corporal e com a imagem, havendo uma procura de inúmeras dietas de emagrecimento. Muitas das vezes a procura destas dietas, para além do emagrecimento, é também a procura para corrigir algumas comorbilidades existentes num quadro de excesso de peso, pois estas dietas levam a uma perda de peso a curto prazo, e com sucesso, contudo o ideal é existir uma perda gradual e de forma sustentada no tempo.

 

É preciso perceber o impacto destas dietas no metabolismo e na perda de peso, sendo que o balanço energético negativo combinado com uma atividade física, é a opção mais eficiente.

 

A dieta cetogénica está incluída nas dietas que levam a uma perda de peso mais rápida, sendo caracterizada por doses elevadas de gordura, moderada em proteína e podre em hidratos de carbono. Existe assim uma substituição da fonte de energia alternativa ao cérebro, de glicose vinda dos hidratos pelas cetonas, vindas da gordura. A proteína é incluída na dieta com uma função estrutural.

 

Esta dieta, tal como todas as outras dietas existentes, deve atender aos princípios gerais da nutrição, fornecendo assim a energia necessária, proteínas, vitaminas e minerais, contudo estes últimos na cetogénica muitas das vezes terão de ser suplementados, pois não conseguem satisfazer as necessidades diárias de um indivÍduo.

 

Estudos têm demonstrado que estas dietas são uma boa alternativa para a perda de peso e de gordura de forma rápida, que promove um perfil lípido não aterogénico, diminui a pressão arterial e melhora a resistência à insulina, com uma melhora nos níveis de insulina e glicose em jejum.

 

A redução do peso corporal rápida com a dieta cetogénica deve-se à utilização das reservas do glicogénio que consequentemente leva a uma perda de água.  Esta perda de água pode ser revertida com um aumento do consumo de água em torno dos 60/70 ml/kg/dia. Este ponto é muito importante para o equilíbrio hídrico e para o desempenho físico.

 

Para além de uma estratégia para o emagrecimento, a dieta cetogénica também é conhecida no tratamento da Epilepsia. O efeito sedativo dos corpos cetónicos, provenientes do baixo consumo de hidratos e elevado consumo de gordura, a sua concentração no plasma, a acidose presente, a parcial desidratação, a adaptação metabólica e as mudanças na concentração dos lípidos são os fatores que ajudam a controlar as crises epiléticas. Isto deve-se ao sistema nervoso central conseguir metabolizar os corpos cetónicos, pois existem também constituintes cerebrais dependente de glicose. A dieta cetogénica é implementada em quadros clínicos como Epilepsia de difícil controlo, espasmos infantis, Síndrome de West e Síndrome lennox-gastaut.

 

Apesar de existirem benefícios tanto a nível de perda de peso como no tratamento de epilepsia, há efeitos colaterais e complicações.  Estes efeitos colaterais podem ser agudos ou crónicos. Quanto aos efeitos agudos, que podem surgir no inico da terapia, são a hipoglicémia e a letargia (perda completa ou parcial da sensibilidade/movimento vinda do efeito sedativo dos corpos cetónicos).  Os efeitos iniciais incluem também náuseas, vómitos, refluxo gastro-esofágico, dificuldades na digestão, obstipação, sonolência, perda de peso, e febre. A longo prazo podem-se verificar litíase renal (cálculos renais), infeções recorrentes, hiperuricemia (aumento do ácido úrico no sangue), hipocalcemia (falta de cálcio), hiperlipidemia (aumento de gorduras no sangue), hipercolesterolemia (colesterol elevado), irritabilidade, letargia e recusa de ingestão.

 

Quando esta dieta é implementada nas crianças no tratamento de epilepsia traz algumas desvantagens como restrição alimentar, separação das crianças da restante família na hora das refeições, de forma a diminuir a vontade de consumir alimentos que não estão incluídos no tratamento e alimentação com pouco paladar.

 

Apesar de se verificar que a dieta cetogénica é eficaz tanto a nível de perda de peso como a nível de tratamento de epilepsia, são necessários mais estudos referentes aos efeitos a longo prazo na saúde e seus efeitos colaterais. É importante salientar que o nutricionista tem um papel fundamental na prescrição e elaboração deste tipo de dietas e também na sua individualização, assim como é essencial o papel do médico para monitorização do quadro clínico.

 

Nutricionista Adriana Marçal (2983N)